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- #1 - Um retorno e Boas Vindas
#1 - Um retorno e Boas Vindas
Primeiramente, muito obrigado por se inscrever nessa newsletter! Estava um pouco assustado com a possibilidade de absolutamente ninguém se inscrever para receber essas palavras, fico muito feliz que apesar de tudo, alguém topou ler o que tinha a escrever. Obrigado mesmo.
Basicamente, precisou de um Apocalipse para eu tomar essa iniciativa. Eu já estava considerando como iria ser voltar a Escrita, após um bocado de tempo afastado. E olhando em retrospecto, vejo como muitos foram os fatores que criaram esse distanciamento. Dentre eles a própria dificuldade do mercado editorial, a falta de tempo, os resquícios de uma pandemia que afetou minha percepção de tempo e noções de produtividade, eu praticamente abraçando o mundo com as pernas e as machucando no processo, e mais recentemente um curta metragem que me cobrou cinco meses de trabalho.
É, é um bocado de coisas. Poderia escrever várias cartas como essa detalhando as peripécias e desventuras desses processos. É curioso usar essa newsletter para falar disso. Desde a pandemia, fiquei muito reticente em falar coisas pessoais no Twitter. Acho que há uma dinâmica ali que não permite muito bem esse tipo de manifestação. Nem estou falando do fenômeno de alguém distorcer o que você tem a dizer e as coisas se encaminharem como chamas em mato seco e você não entender como aquele incêndio começou de fato, mas há certo distanciamento, quase como…
Bom, ninguém se importasse.
Falar futilidades sempre é um pouco mais fácil e inofensivo que se abrir.
Não que essa newsletter seja uma espécie de diário. Vai ser, mas não tão pessoal, não se assustem. Acho que para começar essa nova jornada preciso passar por esse processo quase de justificativa.
Estive ocupado. Muito ocupado. E bastante desmotivado. Ao ponto de sinceramente querer desistir de tudo isso. Desistir de escrever, contar histórias, publicar. O que é curioso porque estou lutando há tanto tempo, e relativamente consegui muito mais do que tinha antes da pandemia. Em 2020, quando “Relicarium” relativamente chamou a atenção, eu me sentia esperançoso em conquistar muito mais. Uau, pessoas estavam me lendo. Eu estava conhecendo escritores de todos os locais do país (até hoje, acho isso a coisa mais legal do ofício). Consegui 45 reais de royalties. Havia esperança.
Mas eu estava no meio de uma pandemia, no meio de um processo violento de isolamento. Tentei escapar da pandemia produzindo adoidado. Escrevi a primeira versão de Relicarium 2 enquanto ouvia o jornal aumentando a cada dia o número de mortos no Brasil por uma doença (vítimas a qual, tristemente nunca tiveram sua devida justiça) e apaguei Relicarium 2 inteiro em uma crise de ansiedade meses após. Tentei alcançar o máximo que podia. Mandei contos para revistas gringas, brasileiras, produzi como nunca, tentei tudo que poderia para fugir da realidade. No audiovisual, recebi negativas de todo tipo. Precisava produzir mais e mais, porque todo mundo estava produzindo (alguém precisa fazer um estudo sobre o boom de livros independentes nos anos 2020-2021, sério, tem um fenômeno ali muito curioso para se observar), precisava conseguir algo. Nem eu sabia bem o que era esse algo, apenas queria me sentir útil como pessoa, queria sentir que em meio a um mundo desmoronando eu poderia fazer algo válido com o pouco que sabia.
Não deu muito certo. Produzir, gerenciar carreira, se vender na internet, e ainda por cima estudar, produzir, ser um ser humano, atravessar um Apocalipse e outras tantas coisas foi uma mistura de produtos químicos que foi produzindo ácido e eu inalava, inalava, inalava e sufocava…
Garanti a todo mundo que não estava tão ruim, mas estava. Não é o foco aqui dizer o quão estava, mas eu me desmotivei. Deixei levar. Não tinha mais força para escrever, não via propósito. Ninguém iria me ler. Foquei no audiovisual. Era mais palpável e talvez eu conseguisse um pouco mais de dinheiro. Repeti os mesmos erros, mas consegui entrar em um curso de Animação na mesma escola que me formei como Cineasta. Ainda tentei conciliar os dois mundos, em vão como são os Atlas que tentam segurar dois Céus, e acabei decidindo focar só na animação.
Foi um processo incrível. Posso explicar melhor em outra carta, mas em determinado momento, um ciclo se encerrou e eu estava novamente perdido. Longe demais da literatura, sem rumo com o que tinha acabado de aprender. E havia aquilo. Aquele sentimento que me perseguia mesmo animando durante quase dez horas por dia. Audiovisual é um processo de contar histórias, possui uma gramática outra, linguagem própria, mas é um processo como escrever. Mas assim como eu fui pro Audiovisual por sentir que não conseguia contar tudo com a literatura, eu pensava em como queria voltar a escrever para contar coisas que o audiovisual não consegue contar.
Eu ainda não sei como é totalmente esse processo de retorno a escrita. Antes da decisão (mais que certa, diga-se de passagem) do STF em relação ao Twitter/X e sua administração criminosa, eu não tinha a menor ideia a respeito de como seria esse processo de volta a escrita. Assim como em 2020, eu não tinha condições financeiras para disputar muito terreno no mercado. Óbvio que há alternativas, mas considerando a experiência de quatro anos observando ativamente as redes sociais e seus usos (apesar de escrever desde 2015, eu só fui realmente me aproximar da comunidade literária cinco anos depois), eu sabia que era uma batalha difícil. E nem se trata de condições apenas financeiras, mas de tempo, investimento que sai tão caro quanto orçar uma capa, e a qual assim como o dinheiro parece que tenho menos e menos ainda.
Mas algo precisava ser feito. Essa newsletter foi a melhor forma que encontrei para criar um novo canal pós-apocalipse do Twitter/X. Sempre achei interessante newsletters, sempre me perguntei como seria compor esses textos, quase como cartas a qual sempre achei fascinantes elementos que muitos escritores tinham. Decidi criar isso aqui como uma forma de falar sobre meus futuros projetos, inspirações, curiosidades a respeito deles ou apenas espaços para falar de livros e filmes que ando consumindo e me inspirando. A ideia é que seja pelo menos dois envios mensais (um sempre no primeiro dia do mês, e outro preferencialmente pelo dia 15, mas vamos aceitar que eu posso atrasar esse segundo).
Algumas pessoas aqui, acredito eu, já tenham lido coisas minhas. Algumas devem estar esperando a continuação de uma ou outra, ou um projeto que eu tenha comentado e prometido. Atualmente, eu de fato tenho três iminentes dívidas literárias: Relicarium 2, o livro de vampiros sem título e a saga do Giuseppe em Amore Mio. Estou efetivamente ignorando todos os outros projetos do futuro e pensando nesses três em específico. Eu ainda não sei quando ou qual vai ser o primeiro dessa lista. Eu tinha um plano para Relicarium esse segundo semestre, mas como agora - para variar - eu também estou na Universidade, muita coisa tá aperreada e eu ainda estou calculando as rotas (enquanto faço as provas finais das quatro cadeiras e outro curso a qual estou matriculado).
Eu agradeço demais quem se inscreveu nessa newsletter. Fico muito feliz de saber que alguém vai abrir seu e-mail e ler essas palavras. Espero poder trazer todas as histórias que eu quero contar, as que eu estou prometendo (acreditem, eu mais do que ninguém estou ávido para vê-las alcançarem seus próprios voos), e tantas outras.
Atualmente, estou um pouco perdido (imagine alguém numa biblioteca encarando várias estantes e livros bagunçados entre folhas numeradas fora de ordem, é esse meu estado), mas acredito que as coisas vão sim, se organizar. E como o próprio nome dessa newsletter sugere: mapear um caminho para qualquer que seja.
P.s: O nome dessa newsletter é um resgate da época que eu tinha blog e escrevia críticas de livro e filme. É o mesmo nome (https://mapeadordehistorias.blogspot.com/). Achei legal retornar isso nesse processo.
Atenciosamente,
Matheus Monteiro